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(22/02) Preço da arroba do boi chega R$ 300 e atinge marca histórica

 Nos últimos dias, o preço da arroba do boi em Araçatuba (SP) atingiu o maior patamar da história, passando de R$ 300,00 e estabilizando nessa quantia. São muitas as razões desta alta, que envolve pecuarista, frigorífico, importador e consumidor, e que impacta de diferentes formas cada elo dessa cadeia.


Para quem vai ao supermercado e vê o quilo da carne bovina nas alturas, a saída é trocar por frango, porco ou ovo. Já para o pecuarista, a situação tende a ser boa, no entanto, de acordo com o vice-presidente do SIRAN (Sindicato Rural da Alta Noroeste) Francisco de Assis Brandão Filho, esse cenário também passa uma falsa impressão que o criador está ganhando dinheiro a rodo.

Nesta entrevista exclusiva para a Folha da Região, Chico Brandão fala sobre a atual situação do mercado, explica quais são os fatores que fazem a arroba estar a níveis tão altos, sem que isso reflita obrigatoriamente em rentabilidade para o pecuarista. Ele também discorre sobre o impacto da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) na pecuária, assim como fala sobre o papel de Araçatuba, que já foi considerada a Capital do Boi Gordo, nos dias atuais para o mercado nacional.

O que explica a atual situação do mercado e o preço da arroba do boi?
É uma série de fatores. O primeiro é a reposição, que está muito cara. O pecuarista pensa e pesa bem a venda do boi dele, já que depois será difícil comprar boi magro para engorda, porque o valor está altíssimo. Isso acontece porque o preço estava barato anos atrás, e houve muita matança de fêmea, o que diminui a oferta de bezerros, reduzindo a oferta de animais para serem engordados. Também há essa mortandade maior dessas fêmeas porque o preço valorizou muito no mercado de abate. Antigamente, o distanciamento de preço do macho e da fêmea era maior. Hoje, até a novilha fêmea tem sido muito abatida, pois a carne é muito tenra e de ótimo sabor, e a exportação desses animais também é cada vez mais comum e maior.  

Um outro problema é que muita gente está saindo da pecuária em função da baixa rentabilidade por área. Aqui na nossa região, por exemplo, a cana-de-açúcar rende mais que o boi na maioria das vezes, então a pessoa prefere partir para a cana. Também temos visto um crescimento expressivo na produção de soja por aqui, o que não existia antigamente, que também tem boa rentabilidade. Isso tem desalojado as áreas que antes eram para a engorda. Mas isso não acontece só aqui. No Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul, o eucalipto também está tomando o lugar das áreas que antes eram para confinamento do gado.

Os custos atrelados ao dólar também são responsáveis por essa situação. Adubo, vacinas, vermífugo, tudo subiu muito junto com o dólar, que empurra pra cima o preço do boi. Afinal, você precisa adubar o pasto, construir cercas, comprar arame, e todos os insumos que usamos estão atrelados ao dólar, o que faz com que o preço final seja muito alto.

Outra coisa que a gente vê é a exportação, que está muito aquecida, principalmente para a China. Há dois anos, ocorreu uma seca muito grande na Austrália, e logo depois disso houve uma grande enchente que matou muitos bois, então, aquele país ficou muito fraco no mercado em 2020, e isso nos possibilitou aumentar a exportação brasileira. Por ser uma carne relativamente barata, comparada com a dos EUA, que é um produto mais caro por ser produzida apenas com a utilização de grãos, o produto brasileiro tem alcançado bons negócios e em grande quantidade. Se fosse apenas o mercado interno, a arroba do boi estaria bem mais barata, porque o Brasil não consegue consumir tudo o que produz.

Qual a tendência para as próximas semanas?
O preço deu uma estabilizada, pois os bois de pasto começaram a entrar no mercado. Mesmo com a chuva no final do ano passado, que foi muito ruim para os produtores, já está tendo pasto e algumas vendas de animais a pasto, o que não aconteceu em dezembro e janeiro. Acredito que em março, abril e maio, que é a época da safra do boi onde os pecuaristas dão o acabamento no gado e vendem, deve haver uma estabilidade.

O senhor acredita que o preço se mantenha neste patamar histórico de R$ 300,00?
Sim, acredito que esse valor deva se manter nestes próximos meses, a não ser que ocorra uma parada brusca da compra de carne feita pela China, ou então, que as exportações subam ainda mais. A minha visão é que haverá uma estabilidade, pois chegamos a um patamar perigoso. Se começar a subir muito, o mercado interno para de comprar, principalmente neste período de pandemia que estamos vivendo.

Preciso dizer que, ao contrário do que muitos acreditam, os pecuaristas não estão “nadando no dinheiro” com esse valor alto. Com a arroba nas alturas, sobra menos dinheiro do que com a arroba baixa. A nossa região é formada em grande parte por áreas de engorda, que não tem tanta rentabilidade como se imagina.

Já tivemos época em que o preço da arroba estava baixo, e, no caso dos bezerros, mais baixo ainda, e isso era muito ruim também para os criadores. O momento está muito bom para quem cria, porque está vendendo o bezerro e a bezerra com preços bons, e com essa valorização vai haver um aumento de pessoas voltando a criar. Como a terra é cara, e a cria precisa de muita área, pois a vaca come muito, a nossa região não possui tanta área assim. Antigamente, era melhor criar em outro Estado, que tem a área mais barata, e daí trazer para cá para a engorda, e os confinamentos daqui, para depois vender.

Qual a dica hoje para o pecuarista? Vale a mesma regra para os pequenos, médios e grandes?
Na nossa região, temos muito bezerro de leite por estarmos na principal bacia leiteira do estado de São Paulo, e esses animais não são tão procurados como os da raça Nelore, por exemplo, mas há um comércio sim. Digo sempre que o pecuarista precisa viver o momento dele. Por exemplo, caso ele tenha uma dívida, com esses preços mais altos, talvez seja a hora de quitá-la. É importante ficar atento para as oportunidades que aparecem.

Qual o impacto da pandemia do coronavírus na pecuária?
Enquanto o Governo Federal estava disponibilizando o auxílio emergencial, os consumidores consumiam da mesma forma de antes. Mas, com o fim dessa ajuda governamental, deu uma boa caída no consumo interno e os frigoríficos estão aproveitando para vender lá fora. Aqui dentro está mais difícil de colocar o produto agora. Aqueles R$ 600,00 estavam ajudando a colocar dinheiro na conta do brasileiro, e abastecer a geladeira das famílias.

O pecuarista cria e engorda para o consumidor final, e se este não compra, isso faz com que se perca ou sobre gado, e se sobrar, o preço abaixa. É a velha lei da oferta e da procura. Então, quanto melhor o país estiver economicamente, melhor será para os pecuaristas, porque as pessoas terão dinheiro para comprar carne. Hoje, o que tem equilibrado essa conta são as exportações. Ressaltando mais uma vez que isso ocorre graças ao alto valor do dólar e pela falta da proteína em outros países.

A peste suína na China, por exemplo, fez com que aquele país perdesse muita criação de porco e precisasse comprar proteína do Brasil (porco, frango e boi). Mas, pegando esses três tipos de carne, vemos que o frango leva 45 dias para ficar pronto para o abate, e até mesmo dobrar de produção; o porco já leva um pouco mais de tempo; já o boi leva muito, mas muito mesmo mais tempo para ficar pronto. O ciclo do boi é de, no mínimo, três anos. Ou seja, o pecuarista fica prejudicado para fazer render essa venda.

Araçatuba, que já foi a Terra do Boi ou a Capital do Boi Gordo, ainda tem relevância na pecuária nacional?
Com certeza. A cidade possui muitos pecuaristas que moram aqui, mas que criam em outros estados. Com isso, acredito que continuamos ditando o mercado justamente por todos os grandes empresários do setor estarem concentrados aqui. A tecnologia também é uma forte aliada que corrobora essa afirmação, pois hoje você consegue vender o seu animal e ver a venda do outro, saber em quanto tempo ocorre o abate, e melhorar seu sistema de trabalho no campo. Um acaba sendo incentivador do outro. Antigamente, era uma loteria para saber como seria o preço da arroba, e hoje já conseguimos fazer previsões.

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