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(30/11) Mesmo depois das vacinas, os exames para o diagnóstico da Covid-19 serão necessários, diz Marcos Machado

Apesar de oito meses de pandemia da Covid-19, informações fartas sobre os protocolos de biossegurança e da proximidade de uma vacinação em massa contra a doença, é notório o relaxamento das ações individuais de prevenção. Diante o aumento do número de contaminações na Europa, nos Estados Unidos e em algumas regiões do Brasil, são muitos os receios e questionamentos sobre as medidas a serem tomadas pelo cidadão neste momento. Nesta entrevista exclusiva, o bioquímico Marcos Roberto Ferrari Machado, dono de um laboratório em Araçatuba (SP) que realiza exames para diagnosticar a Covid-19, esclarece que, independentemente de uma segunda onda de contaminação, a melhor opção antes da produção de uma vacina eficaz continua sendo o exame laboratorial.


Folha da Região (FR) – Diante da iminência de uma vacina contra a Covid-19, o exame continua sendo realmente importante?
Marcos Machado (MM) – Com certeza. Testar maciçamente a população continua sendo a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) para enfrentar a disseminação do coronavírus Sars-CoV-2, causador da Covid-19. A realização em larga escala de exames, combinada com o isolamento social, é o caminho ideal para proteger a população da pandemia. Como é grande a quantidade de pessoas assintomáticas, ou seja, aquelas que estão infectadas e não apresentam sintomas, elas potencializam a disseminação do vírus. Somente por meio do exame é possível identificar os infectados e isolá-los para evitar a transmissão. Por este motivo, os testes ganham ainda mais importância e possibilitam uma menor taxa de transmissão do vírus. Países que adotaram medidas preventivas e realizam testes em massa na população conseguiram enfrentar a doença de uma forma diferente. Além do mais, a pessoa infectada pode iniciar imediatamente o tratamento adequado.

FR – E qual é o exame mais eficaz atualmente?
MM – O RT-PCR em tempo real, que é realizado a partir de uma amostra de secreções da nasofaringe ou orofaringe – ou seja, material obtido da mucosa do fundo do nariz ou da garganta com uso de uma haste flexível (swab). Trata-se de um teste de biologia molecular que já vem sendo usado em laboratórios há quatro décadas para diagnosticar outros vírus e em diversas áreas de pesquisa. No caso atual, ele detecta um fragmento do genoma do novo coronavírus. A coleta deve ser feita a partir do 3º dia após o início dos sintomas e até o 10º dia, pois ao final desse período, a quantidade de material genético tende a diminuir. É considerado o teste padrão para a Covid-19 no Brasil e no mundo. Ele pode detectar a infecção em mínimas quantidades de material genético do vírus, mesmo quando a carga viral do paciente é baixa, e é efetivo mesmo em pessoas assintomáticas. O problema é que existe hoje em alguns lugares, inclusive Araçatuba, empresas que não são do ramo laboratorial realizando exames usando a mesma técnica de coleta do RT-PCR, porém realizam um teste rápido que não tem a mesma eficiência nem a mesma qualidade do exame RT-PCR. Precisamos ficar atentos a esta situação.

FR – Existe a possibilidade de o RT-PCR dar um resultado falso negativo?
MM – Dificilmente. O importante é que a pessoa procure um laboratório de confiança e que apresente certificados que atestem a sua eficácia e credibilidade. Para a realização do RT-PCR o laboratório deve ser obrigatoriamente credenciado junto ao Instituto Adolfo Lutz. Existem laboratórios conveniados, que apenas fazem a coleta de material dos pacientes e o encaminham a laboratórios credenciados. Nesses casos, existe risco de o material coletado ser maculado, além de o tempo de retorno ser maior do que aquele feito em um laboratório local devidamente credenciado e que realiza todo o exame aqui mesmo.

FR – Como está a procura no laboratório pelo RT-PCR?
MM – Nos seis primeiros meses da pandemia, a procura foi crescente, tanto por parte de empresas e do poder público quanto de forma individual. Mas, de outubro pra cá, houve queda de aproximadamente 25% na realização de exames, principalmente por parte do cidadão, daquela pessoa que vai até o laboratório para fazer o teste. Acredito que, com o passar do tempo, houve um relaxamento, uma despreocupação que não se justifica, pois a Covid-19 continua aí e voltou a recrudescer em várias partes do mundo e do Brasil, sendo uma doença muito perigosa, prova disso são as mais de 170 mil vidas perdidas no país. Da semana passada pra cá, a procura voltou a crescer significativamente.

FR – Houve diminuição na busca por outros exames realizados pelo laboratório?
MM – No início sim, para praticamente todos os exames, o que é natural, pois havia receio de grande parte dos clientes de compartilhar o ambiente com pessoas possivelmente contaminadas. Mas, com o passar do tempo, houve o entendimento que unidades de saúde que seguem rigorosamente os protocolos definidos pelas autoridades de saúde são seguras. É o caso do nosso laboratório. Fizemos um significativo investimento em materiais e equipamentos diferenciados, além de oferecer coleta em drive thru e mesmo em domicílio. Passados quatro meses, a procura começou a voltar ao normal, para todos os exames, como bioquímica, citologia, enzimologia, hematologia, micologia, microbiologia, parasitologia, teste de DNA, saúde ocupacional, sorologia, toxicologia e urinálise, entre outros.

FR – Diante da notícia de quase 7 milhões de testes estocados, próximos do prazo de validade, como avalia a situação de Araçatuba neste cenário?
MN – É lamentável que, em plena pandemia, o Brasil passe por este tipo de situação. Independentemente de quem é culpado (e entendo que os responsáveis precisam prestar esclarecimentos e, eventualmente, serem responsabilizados), os testes precisam chegar urgentemente aos municípios. Especificamente em relação a Araçatuba, entendo que o município não se inclui neste panorama, pois a prefeitura não realiza os testes no município, ela somente colhe e encaminha para o Instituto Adolfo Lutz. O que o poder público local tem aqui são kits de coleta, que são enviados aos laboratórios, e que a secretaria de Saúde afirma serem 3500, suficientes para cerca de 40 dias.

FR – E como está o índice de contágio pelo coronavírus diagnosticado por meios dos exames realizados pelo laboratório?
MM – Nos meses iniciais da pandemia, de cada 10 exames que fazíamos, três davam positivo. Hoje, cinco são positivos. Ou seja, metade. Particularmente, considero um número alto. O lado bom é que, dada a agilidade do resultado, que sai em até 48 horas, e, em alguns casos específicos (viagens internacionais e pacientes hospitalizados, por exemplo), em 24 horas, a pessoa pode e deve começar o tratamento imediatamente. O que não é razoável é não fazer o exame tendo mantido contato com indivíduos contaminados ou apresentando sintomas.

FR – O senhor acredita que estamos no início de uma segunda onda da Covid-19 no Brasil?
MM – Não tenho condições técnicas de responder esta pergunta, mas sinto-me à vontade para afirmar que, independentemente de estarmos ou não no início de uma segunda onda, é fato que em várias cidades do Brasil o número de casos voltou a aumentar, com indicadores de monitoramento da média móvel de novos casos registrados no país mostrando esse crescimento. Essa taxa vinha apresentando uma tendência de queda desde meados de agosto e atingiu seu menor valor desde então em 6 de novembro, com 13.644 de novos casos. Então, voltou a subir. Guardadas as devidas proporções, trata-se de situação semelhante a enfrentada pelos Estados Unidos e por países da Europa, onde a propagação do coronavírus voltou a se intensificar nas últimas semanas. Agora, toda a sociedade precisa agir. Estou falando do poder público, de empresas e também do cidadão comum. Se cada um não fizer a sua parte, a epidemia brasileira tende a voltar a crescer exponencialmente.

FR – A vacina vai acabar com a necessidade dos exames?
MM – De jeito nenhum. É preciso entender algumas circunstâncias relevantes desse processo. Primeiramente, ainda serão necessários alguns meses até que as vacinas sejam disponibilizadas e passem a ser aplicadas de forma massiva na população. Também devemos levar em conta que nem todo mundo será vacinado, pois tem gente que, por um motivo ou outro, é contra a vacinação. Portanto, isso levará tempo. Além do mais, e, em última análise, todas as vacinas que estão sendo desenvolvidas apresentam até o momento alto nível de eficiência, mas nenhuma garante 100% de imunidade. Ou seja, a Covid-19 não vai desaparecer de uma hora para outra. Na prática, isso quer dizer que os exames sempre serão oportunos e necessários.

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