ARTIGO: Carnaval e saúde
Às vésperas do carnaval, momento cultural brasileiro ímpar, sinônimo de festa e alegria, é preciso tocar em um tema controverso: os abusos cometidos principalmente com o uso de drogas lícitas — aqui, entra o álcool — e também ilícitas, entre elas maconha, cocaína, crack e lança-perfume.
Infelizmente, muitas vezes, o lado bom do carnaval acaba sendo apenas um pretexto para o uso abusivo dessas substâncias. Ou seja, em vez de os simpatizantes aproveitarem uma das maiores expressões da cultura nacional, divertindo-se de forma ordeira, optam por colocar em risco a própria vida e a dos outros.
Sendo assim, nesta época do ano, o número de acidentes nas rodovias cresce, por exemplo. Por isso, bancos de sangue realizam campanhas para aumentar o estoque. Como se não bastasse a imprudência de motoristas que consomem bebida alcoólica e dirigem, há também o consumo excessivo de drogas, dentre as quais maconha, cocaína, crack e lança-perfume.
Os prejuízos provocados pelo uso dessas substâncias podem ser agudos — processo de intoxicação ou overdose — ou crônicos, com alterações irreversíveis, em muitos casos. A cocaína, por exemplo, é a principal causa de infarto agudo do miocárdio em pessoas com menos de 30 anos. Já o crack, com ações mais intensas, é uma condenação à morte. A expectativa de vida é reduzida drasticamente após dois anos de dependência.
Há outro risco, ignorado pela maioria dos jovens, mas que pode trazer sérios danos à vida ‘útil’ do coração, além de levar à morte. Estou falando da mistura ‘explosiva’ de energético com bebidas alcoólicas — uísque e vodca. Ela pode provocar sérios problemas no ritmo cardíaco, assim como está associada diretamente a acidente vascular cerebral e morte súbita. Isso porque o principal ingrediente dos energéticos é a cafeína, composto ao qual se atribui boa parte dos sintomas.
Como médico, não posso deixar de falar também da importância do uso de preservativo. As unidades de saúde o distribuem de graça. Ou seja, não há desculpa para deixar de usar camisinha durante a relação sexual.
Deixo aqui uma recomendação. Vamos curtir o carnaval com alegria, ao lado da família e de amigos, atentando para os excessos. É uma pena que os bailes nos clubes não existam mais. No entanto, ainda é possível curtir, e sem provocar danos à própria vida. Quer beber cerveja, tudo bem, desde que seja com moderação, e nunca antes de dirigir. E, de uma forma geral, diga não às drogas.
No carnaval, vamos dar mais valor à vida.
*Dr. Flávio Salatino é médico cardiologista em Araçatuba (SP)
Este artigo foi publicado no jornal Folha da Região (Araçatuba – SP)